É interessante que eu descreva a estória dessa grande sábia
entidade que me deu a honra e prazer de poder evoluir pelo seu amparo e
exemplo.
Vó cabinda em sua última romagem por esse planeta, veio
trazida para o Brasil, da África, mais especificamente do porto de cabinda,
grande entre posto comercial, recebia o nome de rota de Mina ali recebia os
escravos da região oeste da África (sudaneses) aonde hoje situa a Guiné Bissau,
antigo povo da republica de Daomé, quando estes falavam na língua Ioruba eram
chamados de Mina ou nagôs, foram trazidos para a região norte e nordeste do
Brasil para trabalharem no ciclo do açúcar. No século XVI e XVII.
Ela chega ao Brasil com 12 anos é levada a uma fazenda
engenho no estado do Maranhão, não vou me deter a datas e ao nome da fazenda
que ainda persiste nos tempos atuais, preferíamos deixar em segredo, também não
vou me deter em sua origem seu nome sua infância, pois isso seria estória para
outro causo, no qual ainda não estou permitida a revelar. Nos detemos nos
fatos.
Palavras de Cabinda:
—“ Ah fia, desde que cheguei no engenho, tive meu serviço
acertado, meus bracinho eram finos, diziam, que eu não prestava pra cortar
cana, que de tão miúda era possível o capataz nem me nota, então criança que eu
era, eu ia ficar por conta dos meus miúdos da senzala, cuidava pra eles
crescerem fortes pro serviço, então eu cuidava das dores de barriga, das
perebas e de tudo que criança tinha, até mesmo as escondidas brincava de roda
pra enganar a fome dos coitados, então os anos foi passando e me tornei assim
cabinda que hoje os fio chama de babá, então fui consagrada pelas mães da
senzala de menina d´agua, porque eu era de Iemanjá¹ porque vim lá do porto, mas
também de mamãe oxum e protegida pelo gênio forte de xangô, nosso rei. Agora
fia vou te explica porque mamãe oxum também é minha madrinha.
Certo dia, já contava eu vinte e duas luas, fui chamada na
casa grande, me levaram pro quarto e eu tremendo seguia a iabá gorda e
muda, abriu a porta e eu vi a senhora ali chorando no leito me estendeu a
criança branca em volta a mais pano branco, a única cor que eu via na criança
era a bochecha vermelha, as mães de leite olhavam pra mim como se viam a
própria mamãe oxum, então a senhora me perguntou:
— Você menina, tem leite?
—Eu senhora?
— Você, faça sua mandiga, alimente minha filha.
Calada e acho que até pálida, fiquei parada congelada com a
menina nos braços, fui interrompida em meu momento de terror por uma das mães
de leite.
— Cabinda minha criança, nós já não temos força no leite,
só sai um riachinho o que fazemos para amentar a Sinhazinha? Você tem um dom,
então vá na morada de oxum e peça com fervor que ela mostre sua valia.
— Mãe Joana, tenha piedade, deve tá faltando miolos...
Senhora, nunca tive grávida, como posso então ter leite? Dá logo o de cabra pra
criança.
—Já tentamos de
tudo, a menina vai morrer de fome e se isso acontecer, você também, juro por
meu Deus, pelo seu Deus e qualquer orixá que vocês cultuam, se for pra ser
assim peço a eles a salvação:
— Bem fia, vivi bem sabe, na época, que era
impossível ir contra a senhora estava conturbada e a mães velhas crentes demais
para realidade chama-las, mãe Joana disse a senhora que me entrega-se algo de
ouro para que a “mandiga” desse certo, no ímpeto ela relutou mas acabou dando
como ela disse o pagamento, sabemos fia que não é nesse sentido que as coisas
andam em se tratando de oferendas a orixás, mas era perca de tempo tentar nos
explicar. Ainda com a criança branquinha nos braços saí, passei pela cozinha e
peguei, um tablete de rapadura, pensando na proteção de ibejim que não me
deixa-se morrer, fui escoltada a cachoeira mais perto.
Chegando lá tudo fez sentido, logo que cheguei levei foi um
baita de um susto, quando vi Exu, parado com aquele olhar, ah! Aquele olhar de
Exu, você sabe, tremi toda, nunca tinha visto orixá nenhum, curvei diante
aquele gigante que não me disse nada em palavras mais conversou comigo
mentalmente pedindo que os jagunços não passassem dali, lá fui eu explicar aos
homens maus, rindo mas aceitando com medo, coloquei a criança em uma pedra, não
sabia o que fazer, tentei me acalmar, então uma voz dentro de mim fez o som da
cachoeira sumir, então a voz me disse
que a criança deveria ser salva e que ela faria bem ao meu povo, então ressoou
em mim o pedido... Cante.
Cantei a Exu¹, a Xangô¹, a oxum¹, a ibejim¹ e ao meu pai
Oxalá¹. Clamei, pela minha vida e me despindo de orgulho também pedi pela vida
da criança, ofereci doce, partindo uma parte para as dezenas de indiozinhos
espíritos que me olhavam curiosos lá da mata, então pedi pelo amor de Oxóssi¹
por oxum, que ele com todo seu conhecimento também abençoa-se aquele rito,
banhei a cabecinha da neném, bati cabeça na cachoeira, me banhei com respeito e
entreguei as aguas a correntinha brilhante de ouro a sua verdadeira dona, a mãe
por excelência pedindo que me desse o leite para amamentar não só aquela branca
criatura filha também de Olorum², mas a todos meus miúdos que necessita-se,
pedi também a ela que adoçasse a senhora, que os dias na fazenda fossem de paz,
no momento não vi mais nada, fui tomada pelo amor de Oxum, não sei fia... Como
descrever pra você, mas tento passar esse amor que recebi a todos até os dias
de hoje, e ele, o amor, nunca se esgota, é infinito como ela minha madrinha
oxum.
Saindo do êxtase, tentei ainda acanhada dar o peito ao
serzinho que ali estava, já tremendo de frio, pelos respingos da água da
cachoeira, então o milagre se materializou, o leite jorrou eu chorei e a
sinhazinha se fartou.
Oxum estava em mim, não sei se para me guiar em minha
missão ou pelo amor incondicional as crianças, ou pelo dois, sinto que oxum se
fez presente por meu corpo, mas não por mim mas pelo ser frágil em meus braços
e pelas tantas que viriam.
Voltei ao engenho, entreguei a bebé, fui abençoada por mãe
Joana, que tratou de contar o milagre de Oxum para todos, a senhora liberou uma
festa na senzala, me agradecendo com desdém, achando ser apenas mais um serviço
prestado, mas oro por ela, pois se não fosse o desespero de mãe eu também não
saberia o que é o amor, meus miúdos comeram até ficarem com a barriguinha
estufada, sabia eu, que no outro dia teria muitos chazinhos para preparar, a
vida seguiu e o leite também.
Porém fia, no tempo
dessa minha última existência eu nunca pari um fio meu, cuidei com fervor e
resignação de tantos miúdos, mas nunca nenhum de meu ventre, aliás essa seria
outra estória pra um dia se oxalá permitir eu te contar.
Hoje fia, estou feliz em ter sua companhia e caminharmos
juntas, minha menina de oxum, mais feliz ainda em poder fazer seu ventre gerar
uma nova vida tão desejada e amada, que esses laços de amor durem
infinitamente, pois o que seria desse planeta sem o ventre das mulheres?
1:orixás, seres da natureza, divindades, partes de um deus,
seres do panteão Africano Ioruba. Cada qual com suas funções e personalidades.
2:olorum: entre os povos da costa da Guiné e regiões
vizinhas, ente divino abstrato, eterno, onipotente, criador do mundo e cuja
epifania é o firmamento [Tem estatuto acima dos orixás e pode não ser entidade
originária do panteão negro-africano; não é objeto de culto regular no Brasil
nem na África.] fonte: internet
Iabás: O termo Yabás refere-se ao Yorubá, dialeto africano que, traduzida, significa, “mãe”, “senhora”, “aquela que alimenta seus filhos”. Na religião de origem africana, as Yabás são orixas femininos, representados por Nanã, Iansã, Oxum, Obá e, Yemanjá, entre outras. ( fonte: internet)
PESQUISA SOBRE ESTORIA DA PROVINCIA DE CAMBINDA:
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