segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Desejo

Não sei o que faço aqui
Não sei se faço lá
Foi a lua cheia em áries que fez eu deslocar.
Deitada no sofá da visita.
As indagações, já passaram 
Agora só silêncio na urna sagrada.
Morre a menina!
Nasce a adulta frustada.
Clichês de minha vida.
Dia estranho, sem nexo, sem ponto, perde o ônibus.
Chove, faz sol, para mim  tanto fez.
Não busco mais sentido.
No fim e no começo.
Deslocada, maluca, esvairada, furacão de mulher, diz o espelho.
Minha vida de percas, o que precisa ser feito?
Parar no grito, olhar no rosto do motorista e perguntar:
_ porque me deixastes para trás?
Corri tanto ou pouco? o relógio descompassado, a distração? Tudo isso me fez perder?
Ser passageira do banco de trás.
Como essa posição me doe, sangra a alma da menina, chora a adulta perdida.
Nada posso fazer a não ser esperar outro ônibus que irá me deixar no mesmo lugar, pagar a conta e pronto dormir.
Sonhar com a possibilidade do que poderia ter sido nos.
Será mesmo que eu ficarei bem na sua coleção? Na sua estantes de bibelôs?
Não sei, mas posso essa noite sonhar?
Poderia ter sido casamento, um filho um cão e dias de praia.
Poderia ter sido jantares e cinemas.
Contas atrasadas, compras de supermercado.
Tédio?
Uma vida que seria minha, de tão perfeita, inrritante, a casa perfumada cheirando a água de lençóis caros e a grama plantada no jardim ainda a nascer, o enxoval novo a aliança reluzindo...Não recuso, não recusaria, mas algo pulsa além 
Da casa branca, demodê moderna.
Será mesmo que é isso que desejas? 
Ou aceitaria meu convite a perdição?
O fogo da paixão, meu Lancelote, meu garoto do som, da caixa de meteoro, feliz encontro de te ver amando, mas ainda te desejo,sem poder? Quem dá ou tira a ordem
Desejo, desejo, desejo.
Sei que estás de olhos abertos, deitado ao lado de sua desposada Amanda
A tocando e a beijando
Mas sei que sua mente és minha, queima de desejo e paixão, pelo subjetivo do poderia ter sido assim, poderíamos estar aqui ou ali.
Honro assim a morte da menina.
Se cuide no além criança, nunca mais sentirá deslocada, oro à Persefones, que abra o portão de meu inferno para ti.
Desejo, desejo, desejo.
Colocar minha língua maldita no céu divino de tua boca.
Gosto da casa branca,mas prefiro o preto de seus olhos.
Poderia ser meu bardo e tocar a derradeira cantiga pela morte da menina.
Na sepultura da adolescência, pagar o boleto da vida adulta, da escolha feita.
Voltar a trás?
Ir a diante?
Se o motorista deixar, gritaria eternamente pra compassar meu relógio ao seu.
Mas arder na paixão, da fogueira da bruxa, eternizaria essa relação? 
Possivelmente não
Já não sei.
Consumiriamos até o último oxigênio
E acabaria?
O poderia deixa a incógnita.
Não, não seria o bibelô
Seria o amuleto da porta, a transgressora que pintaria as paredes, baguncaria a cama, deixaria no ar o perfume incomum
Te beijaria a boca com meu batom vermelho, para  te ver manchado, assim como  a cândida casa com as paredes marcadas pelo nosso sexo.
Nada tenho a pedir, por não poder.
Como pedir? Não se case, deixe- me gastar meu batom pelo seu corpo, me perder e me encontrar nele.
Deixe-me chorar em seu colo.
Beijei-me  e esqueça o felizes para sempre. 
Não me importo com o clichê nem com o centro de mesa, joguemos no chão.
Não posso, porque talvez te ame de verdade e estou feliz pela sua escolha. 
Mentira!
A revolta me faz disser: mentira! 
Quero a casa branca, quero a cama, quero você.
Quero arder no céu, mas como almejar os dois?
O tédio e a louca paixão não cabem em uma só vida.
Escolheste ou a vida nós fez assim? Fazer escolhas sem querer? 
Escolheste a bruma branca da tranquila vida cotidiana mundana
Eu sou a bruxa maldita que baila como labareda no teu sonho sensual e te faz acordar assim, molhado do desejo do poderia.
Eu não tenho escolha, eu sou o problema inrresoluto.
A flor do libido, na pele morena.
Ah Lancelote! Como te quero!
A porta do inferno se abre, arremesso a pura criança alí e não olho para trás.
Não posso te pedir, mas ela grita do lado de lá das chamas do pecado...desejo, desejo, desejo.

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